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Postado em 18 de February por gugamachado

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Cicloturismo 2: Entrevista com Fábio Samori

Na segunda parte do especial sobre “cicloturismo”, entrevistamos Fábio Samori, um praticante bem experiente da modalidade.

 

Fabio Samori por ele mesmo:

Sempre andei de bike. Desde pequeno, com minha Berlinetinha fui influenciado pelo meu pai, que pedala até hoje. Minha relação com a bike se intensificou durante a faculdade, quando às vezes ia pedalando para as aulas. Porém, em 2003, quando fiz minha primeira viagem de bike pela região do Lagamar, essa relação se tornou paixão e não tenho qualquer vontade que acabe. Quando morei na Europa adotei definitivamente a bicicleta como meu principal meio de transporte por lá e ao voltar ao Brasil felizmente consegui manter o hábito. Hoje a bicicleta para mim representa, além de meu principal meio de locomoção, um enorme ganho em qualidade de vida, seja na cidade, seja na estrada.

Porquê se interessou pelo cicloturismo?

A viagem de 2003 (a primeira) foi praticamente um acaso: eu e minha namorada na época (hoje minha esposa) não tínhamos planejado nenhum lugar para ir passar as curtas férias que teríamos juntos. Tampouco tínhamos muito dinheiro. Aproveitamos o fato de estarmos com a família dela no litoral sul de São Paulo e propus que pedalássemos até a Ilha do Mel. Compramos dois pares de mochilas comuns numa loja de departamentos, costuramos suas alças e as penduramos nos bagageiros improvisadamente fixados nas bicicletas. O roteiro traçado não foi dos melhores. Duas das mochilas se rasgaram, passamos por diversos apuros em termos de equipamentos utilizados e desgaste físico, mas no fim das contas ambos adoramos.

Quais foram as suas principais experiências no cicloturismo? 

Viajei de bicicleta pelos litorais do Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil, além de alguns locais do interior de São Paulo. No exterior pude viajar com uma dobrável por parte das Terras Médias Escocesas, com minha touring pelo Marrocos e pela Espanha e mais recentemente, com uma outra dobrável pela Turquia. Cada local tem sua particularidade, beleza e interesse distintos. Diria que em todos esses locais o cicloturismo me aproximou das pessoas que encontrei pelos caminhos percorridos de maneira surpreendente e sempre positiva. Acho que a história mais tocante relacionada às pessoas foi no Marrocos: a uns 50km depois de Marrakesh eu e minha esposa fomos alcançados por um grupo de uns seis garotos também de bicicletas. Fiquei um pouco assustado, pois não sabia de suas intenções e estávamos, ao que me parecia, longe de qualquer lugar onde pudéssemos ter um apoio. Um deles emparelhou a bicicleta com a minha e proferiu algumas palavras em árabe (que não falo e não entendo). Sinalizei que não havia entendido e ele me perguntou de onde éramos “Bresil!?” exclamou o garoto surpreso. “kaká, Ronaldinho!?” Todos adoraram saber que éramos brasileiros. De alguma maneira conseguimos estabelecer uma comunicação: ele se chamava Youssef e voltava da escola para casa. Consegui lhe dizer que estava com fome e pedi uma indicação para um local onde pudéssemos comer. Ele fez sinal para que o seguíssemos e, mesmo ainda com certo “pé atrás” resolvemos ver onde ele nos levaria. Nos guiou direto até uma pequena lanchonete e fez o pedido ao rapaz que atendia ali e provavelmente já o conhecia. um delicioso lanche de carne, provavelmente de carneiro e muito bem temperado. Agradeci muito, já arrependido pelos pensamentos iniciais que me fizeram até temer o grupo de moleques que se aproximara de nós meia hora atrás. Ofereci um lanche – e ele não quis. Ofereci uma Coca-Cola – e ele também não quis. Consegui, ao menos agradecer muito a ele antes que fosse embora almoçar em sua casa. Isso me fez refletir demais sobre os nossos pré conceitos, sobre a bondade pela bondade, a ajuda sem qualquer anseio de recompensa. Ao longo dessa viagem conhecemos mais umas três ou quatro figuras que nos ajudaram assim, mesmo que com muita dificuldade na comunicação. Então, diria, que minha principal experiência no cicloturismo é ter descoberto que viajar de bicicleta não é apenas transpor uma distância, mas sim vivenciar, apreciar, saborear etc. cada quilômetro percorrido.

Alguma dica para os iniciantes? 

Sim. Dispam-se de pré conceitos. É fato que é bom se preparar para uma determinada viagem, um determinado trecho. Escolher bons equipamentos (não os mais caros, mas os mais adequados) também é bom. Saber dos limites do seu corpo não é menos importante. Planejar cada dia de sua viagem aparentemente lhe dá todo o controle da situação. Percorrer uma determinada distância por dia viabiliza a viagem num período curto de tempo, por exemplo. Porém, para mim, cicloturismo é poder parar a bike para uma longa conversa com uma pessoa local ou para um banho de cachoeira, de mar ou de rio. É poder mudar de estrada se a paisagem não agrada. É parar sob uma deliciosa sombra e comer frutas frescas direto do pé. É liberdade pura. Não é corrida contra o relógio ou a quebra de recorde de maior distância percorrida. Para isso há competições. Cicloturismo não é competição: é o seu oposto.

Lembre-se de carregar a menor quantidade de coisas possível (leve um sabão em barra e lave suas roupas durante a viagem, assim não precisará levar diversas mudas de roupa), viajar com uma bicicleta mais confortável e mais simples possível (os reparos nas bikes geralmente são necessários, porém, depende da distância percorrida e do tipo de terreno. Por isto, quanto mais simples a bike, mais simples o reparo, ou mais fácil de se conseguir uma peça que necessite ser substituída), sempre levar água, independente da temperatura.

No mais é não se esquecer da máquina fotográfica, seguir as normas de trânsito e curtir e aprender muito com esse delicioso meio de conhecer o mundo que habitamos.

Quais seus projetos para o futuro? 

A próxima viagem de bike deverá ser pela América do Sul e provavelmente em uma tandem (bicicleta de dois lugares), que eu e a minha esposa estamos namorando há algum tempo, mas ainda não temos data certa para partir. Ainda também não temos um local exato: gostaríamos muito de conhecer o interior do Uruguai e chegar até a região vinícola da Argentina, aos pés dos Andes, porém, as grandes altitudes e pontos como o Salar de Uyuni e/ou o Lago Titicaca nos atraem muito.

Esse ano, no entanto, começo a trabalhar profissionalmente com a bicicleta. Em março, ou mais tardar em abril, será inaugurado o Aro 27 Bike Café, com bikes e acessórios focados no uso urbano e turístico, um bom café com cardápio light, uma área mais reservada para se realizar reuniões de trabalho, confraternizações, enfim, pequenos eventos e o grande diferencial: uma área para estacionamento de bicicletas com seguro, integrada a vestiários com chuveiros, para que o ciclista estacione e vá para o trabalho sob qualquer clima ou após qualquer tipo de pedalada.

O Aro 27 se localizará na Rua Eugênio de Medeiros, 445, a 50m da estação Pinheiros do metrô, da linha 9 da CPTM  e do novo terminal de ônibus e a cerca de 300m da ciclovia da Faria Lima.

Muito obrigado Fábio por dividir conosco parte de sua experiência, e boa sorte em suas próximas aventuras!

Esperamos que esta entrevista possa ajudar e estimular mais ainda a prática do cicloturismo no nosso belo e propício país !!!

Nos próximos posts trataremos da escolha do roteiro, a preparação da bicicleta, a seleção do quê levar e demais dicas relativas ao assunto.

Veja também aqui o primeiro post sobre cicloturismo


Comentário

  • Muito legal a entrevista com Fabio Samori. Esse cara nasceu com rodas… Sensacional !!!! Bora pedalar moçada (com parada obrigatória no Aro 27 Bike Café), rs.
    Abraços,

    Rafael Lima (Bolinho)

    Rafael Lima (Bolinho)
  • Pedalar com esse rapaz é incrível!!!!
    A entrevista expressa um pouquinho da experiência e tranquilidade que ele passa quando pedalamos juntos!
    Vai ser muito bom ouvir essas histórias acompanhadas de um cafézinho no Aro27!

    Juliana Hirata
  • […] México,  rumo ao aeroporto de Guarulhos. O grupo era bem eclético: tinhamos eu, Guga Machado; o Fábio Samori (cicloturista experiente e proprietário da Aro 27), o Ricardo Santos e o Rodrigo Raso (sócios […]

    Eu Vou de Bike – Bicicletas, Lazer e Transporte Urbano » De Bike pela Inglaterra (parte 2) euvoudebike.com/2014/07/de-bike-pela-inglaterra-parte-2
  • Cicloturismo em Portugal

    http://www.foldnvisit.com
    http://www.portugalcyclingholidays.com
    http://www.cyclingtoursportugal.com

    Sérgio foldnvisit.com
  • Parabéns! Este é um ótimo testemunho de quem faz cicloturismo e adora. Nada melhor do que ouvir / ler as pessoas a falar das suas experiências. Há pouco tempo escrevemos um artigo sobre cicloturismo e algumas dicas para quem está agora a iniciar esta nova modalidade de turismo. Se quiserem dar uma olhadela o link é o seguinte: http://blog.gobybike.eu/cicloturismo-o-que-e-preciso-para-comecar/

    Go By Bike

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